terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O ATOR E A ARTE DE INTERPRETAR

Esse texto é uma reflexão a partir daquilo que penso

AUTOCONHECIMENTO

E

CRIAÇÃO DE PERSONAGENS

Ninguém, ninguém deve conhecer mais sobre o ser humano do que o ator e a atriz.

Um médico pode conhecer muito sobre o corpo humano, seus órgãos internos e externos, suas dores, sua força e sua fragilidade e um psicólogo pode conhecer o interior do ser humano, seus pensamentos, seus medos, suas inseguranças e certezas.

Mas com certeza nenhum deles deve conhecer mais o humano do que os atores.

As ações e reações, as sensações e sentimentos, a malícia, a pureza, as estratégias, as artimanhas, as intenções dos olhares, as nuances das intenções da fala, a simplicidade, a complexidade, a ingenuidade e a maldade que cada um traz em si, a profundidade dos olhares, a cáustica acidez do choro, o ódio no canto dos olhos, o amor no tapa na cara, o grito por dentro na pausa, a raiva no aperto de mão...

É preciso (auto) conhecer-se e assim conhecer o outro e estar sensível às propostas e às possibilidades de conhecer as ações e reações dos outros.

CRIADOR E CRIATURA

O ator é um criador de seres e nisso é como um deus. Porém essa criatura é criada em si mesmo. No seu corpo, na sua alma, no seu espírito e vive apenas enquanto dura a cena, as cenas ou o espetáculo, seja no teatro, na televisão ou no cinema!

Ele tem que saber o que pensa o seu ser criado, ele sabe reconhecer a delícia e a dor das suas criações.

É preciso ter autoconhecimento constante, é preciso permitir-se, doar-se.

Ser uma "folha em branco" na qual será escrita e desenhada a personagem, significa ser um livro escrito e lido por si mesmo a cada dia. É preciso ter plena consciência da sua humanidade, para saber colocar-lhe a máscara da personagem.

Afinal, em todo e qualquer personagem que você faça irá muito de você.

Sendo uma construção realista/naturalista*(muito utilizado na televisão e no cinema, além do teatro é claro!), a partir de técnicas mais físicas** ou épicas*** será sempre preciso mergulhar sem reservas, respeitando é claro a sua ética, sua moral, seus limites e como você lida com eles, porém com a “cabeça aberta” e disponível a novos questionamentos e novas atitudes, sem ser inflexível, intolerante, preconceituoso e “quadrado”.

(*Teatro Realista, **Teatro Físico, ***Teatro Épico: saiba mais sobre isso no final do texto)

Os inflexíveis, que não permitem mudanças, não aceitam questionamentos e nem se questionam, dificilmente construirão boas personagens. SERES HUMANOS devem estar sempre pré-dispostos às novas propostas, novas atitudes e não devem ser cristalizados ou mecânicos.

PRINCIPALMENTE SE QUISEREM SER ATORES!

Para construir uma personagem é preciso conhecer o ser humano, é preciso criar um ser humano, dar-lhe corpo, espírito e alma.

CORPO

O ator e a atriz que pretende fazer uma boa construção de personagem devem conhecer a importância do CORPO no seu trabalho cênico.

É importantíssimo estar atento aos sinais do corpo, aos movimentos, à timidez, ao exagero, aos códigos claros mostrados pelo corpo a cada segundo. O corpo é um semáforo, ele é um indicador, pode mostrar liberdade ou prisão. Conforto e insegurança, alegria ou aflição, saúde, doença, amor, ódio...

O CORPO FALA!, é uma frase batida e real.

É importante que os atores entendam um pouco sobre fisiologia A fisiologia (do grego physis = natureza, função ou funcionamento; e logos = palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a fisiologia estuda o funcionamento do organismo.

Por exemplo, como funciona o mecanismo da voz? A traquéia, a garganta, as cordas vocais, o pulmão? Como a atividade cerebral influencia nas sensações e nos sentimentos? Essas são questões que ajudam bastante o ator a entender melhor a interpretação e criação de personagens mais desenhados, profundos, pesquisados, estudados e por isso mesmo, MELHORES.

E muito mais.

Ouvi certa vez a atriz Bete Coelho falar pela TV Cultura que tudo é corpo, até a VOZ!

O link abaixo tem orientações interessantes sobre esse tema.

O papel do corpo no corpo do ator, de Sônia Machado de Azevedo

São Paulo, Perspectiva, 2004.

http://www.eca.usp.br/salapreta/PDF05/SP05_026.pdf

Alma e Espírito

E aqui vai um link de um pequeno texto sobre Alma e Espírito que achei na Internet.

www.comshalom.org/webforum/index.php?topic=725.0

Coloquei alguns trechos aqui e não quis entrar no mérito religioso da questão, ok?

“O conceito de Alma e Espírito e sua diferença é muito complexo e tema de discussão desde o início dos séculos para filósofos e teólogos, porém podemos afirmar com segurança, em linhas gerais que:

Alma é um termo que deriva do latim Ănima, este refere-se ao princípio que dá movimento ao que é vivo, o que é animado ou o que faz mover. De Ănima, derivam diversas palavras tais como: animal (em latim, animalia), animador.
A alma é imortal, isto é, continua viva após a morte do corpo...


Espírito é definido pelo conjunto total das faculdades intelectuais

A palavra espírito tem sua raiz etimológica do Latim "spiritus", significando "respiração" ou "sopro", mas também pode estar se referindo a "alma", "coragem", "vigor" e finalmente, fazer referência a sua raiz no idioma PIE *(s)peis- (“soprar”). Na Vulgata, a palavra em Latim é traduzida a partir do grego "pneuma" (πνευμα), (em Hebreu (רוח) ruah), e está em oposição ao termo anima, traduzido por "psykhē".

Uma personagem, após ser criada pode nos surpreender, pedir atitudes, nos surpreender, nos fazer questionar nossa moral, nossas limitações, expandir nossos pensamentos.

Para construir personagens é preciso ter sensibilidade, pesquisa, sutilezas, inteligências múltiplas, emoção, racionalidade e estar disposto a doar o que ela nos pede e EXIGE.

Marco Nanini, o excelente ator, que dispensa maiores apresentações, disse certa vez que é GENEROSO com a personagem: “eu dou o que a personagem pede”. Talvez esse seja o segredo de personagens tão bem construídas por ele no teatro, cinema e na televisão.

* Um pouco sobre Teatro Realista: Na segunda metade do século XIX, o melodrama burguês rompe com o idealismo romântico e dá preferência a histórias contemporâneas, com problemas reais de personagens comuns. A partir de 1870, por influência do naturalismo, que vê o homem como fruto das pressões biológicas e sociais, os dramaturgos mostram personagens condicionados pela hereditariedade e pelo meio.

Autores realistas - Numa fase de transição, ''Tosca'', de Victorien Sardou, ''O copo d'água'', de Eugène Scribe, ou ''A dama das camélias'', de Alexandre Dumas Filho, já têm ambientação moderna. Mas os personagens ainda têm comportamento tipicamente romântico. Na fase claramente realista o dinamarquês Henryk Ibsen discute a situação social da mulher ''Casa de bonecas'', a sordidez dos interesses comerciais, a desonestidade administrativa e a hipocrisia burguesa ''Um inimigo do povo''.

Na Rússia, Nikolai Gogol ''O inspetor geral'' satiriza a corrupção e o emperramento burocrático; Anton Tchekhov ''O jardim das cerejeiras'' e Aleksandr Ostrovski ''A tempestade'' retratam o ambiente provinciano e a passividade dos indivíduos diante da rotina do cotidiano; e em ''Ralé'' e ''Os pequenos burgueses'', Maksim Gorki (pseudônimo de Aleksei Peshkov) mostra a escória da sociedade, debatendo-se contra a pobreza, e a classe média devorada pelo tédio.

O irlandês William Butler Yeats ''A condessa Kathleen'' faz um teatro nacionalista impregnado de folclore; seu compatriota Oscar Wilde ''O leque de lady Windermere'' retrata a elegância e a superficialidade da sociedade vitoriana; e George Bernard Shaw ''Pigmalião'', ''O dilema do médico'' traça um perfil mordaz de seus contemporâneos.

Henryk Ibsen (1828-1906) nasce na Noruega, filho de um comerciante falido, estuda sozinho para ter acesso à universidade. Dirige o Teatro Norueguês de Kristiania (atual Oslo). Viaja para a Itália com as despesas pagas por uma bolsa e lá escreve três peças que são mal-aceitas na Noruega. Fixa residência em Munique, só voltando ao seu país em 1891. É na Alemanha que escreve ''Casa de bonecas'' e ''Um inimigo do povo''.

Anton Tchekhov (1860-1904) é filho de um quitandeiro. Em 1879, parte para Moscou com uma bolsa de estudos para medicina. Paralelamente, escreve muito. Seus contos mostram o cotidiano do povo russo e estão entre as obras-primas do gênero. Entre suas peças destacam-se ''A gaivota'' e ''O jardim das cerejeiras''. É um inovador do diálogo dramático e retrata o declínio da burguesia russa.

Espaço cênico realista - Busca-se uma nova concepção arquitetônica para os teatros, que permita boas condições visuais e acústicas para todo público. O diretor e o encenador adquirem nova dimensão. André Antoine busca uma encenação próxima à vida, ao natural, usando cenários de um realismo extremo. Na Rússia, o diretor Konstantin Stanislavski cria um novo método de interpretação.

Konstantin Stanislavski (1863-1938), pseudônimo de Konstantin Sergueievitch Alekseiev, nasce em Moscou. Criado no meio artístico, cursa durante um tempo a escola teatral. Passa a dirigir espetáculos e, junto com Nemorovitch-Dantchenko, cria o Teatro de Arte de Moscou, pioneiro na montagem de Tchekhov. Cria um método de interpretação em que o ator deve "viver" o personagem, incorporando de forma consciente sua psicologia. Seu livro ''Preparação de um ator'', é divulgado em todo o mundo e seu método é usado em escolas como o Actor's Studio, fundado nos EUA, na década de 30, por Lee Strasberg.

Fonte: liriah.teatro.vilabol.uol.com.br

**Um pouco sobre o Teatro físico: é a construção de formas compreensíveis ao imaginário coletivo, feita através do corpo do ator e que comunique a esse imaginário, sejam formas de sombras, móveis e fixas, com ou sem estrutura dramática, estílo, e que não necessita do uso da palavra, embora não necessariamente a exclua.

As formas plásticas por mais que possam fazer parte do imaginário coletivo não são formas físicas, sendo está relacionada com o corpo do ator, embora possam ser imitadas ou sugeridas não podem ser usadas, e a partir dessa premissa limita o teatro físico ao corpo do ator e ao espaço.

Dentre alguns exemplos podemos citar: O teatro de Bali, a mímica, as figuras acrobáticas, teatro de sombras etc.

A necessidade de uso de qualquer objeto já desconceitua o teatro físico, passando esse para outras formas de possibilidades construção narrativa.


***Um pouco sobre o Teatro Épico: A denominação "épico" vem da divisão alemã dos gêneros literários, a esfera épica era aquela que correspondia à dimensão pública, política, da vida. Trazendo para a discussão e reflexão os determinantes sociais das relações inter humanas.

O teatro épico de Brecht tem influência marxista, propondo-se colaborar com a transformação da sociedade através da reflexão e análise das relações fundamentais de produção. Pois o teatro brechtiano tem como objetivo a tomada de posicionamento crítico e a reflexão e análise, por parte dos espectadores, dos dados fornecidos pela história narrada.
O teatro brechtiano tem como pressuposto o distanciamento, ou seja, admite um afastamento entre ator e personagem, e espectador e história narrada, sendo assim possibilitada uma interpretação mais real e racional da realidade apresentada, evitando o sentimentalismo e apego emocional.
O teatro épico tem uma função social, pois busca proporcionar uma apreciação crítica da sociedade em que estamos inseridos. Neste sentido apresenta um palco científico que, através da representação teatral, busca esclarecer ao público sobre a sociedade e suas contradições, assim como a necessidade de transformação. O teatro brechtiano suscita a ação transformadora.

Espero ter trazido novos questionamentos e ideias a todos!

ESSE TEXTO É APENAS O INÍCIO DESSE ESTUDO.

APROFUNDEM-SE!

ESTUDEM!

CONHECIMENTO NUNCA É DEMAIS!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

O ator precisa ter sensibilidade,se emocionar.. sentir...rir...chorar...E para ficar um ótimo trabalho em cena, é preciso se auto-conhecer!!! É NECESSARIO DOAR-SE A PERSONAGEM, viver os sentimentos desta; colocar-se por inteiro em determinada situação!
Por isso todo ator, que queira crescer em sua arte,DEVE ESTUDAR, gostar de lêr, de pesquisar, TER SEDE DE APRENDIZAGEM!!
O blog está maravilhoso, parabéns professor, pelo seu ótimo trabalho.

E VIVA A ARTE! =D

Ass.
Bruna Oliveira

Joanderson Mascarenhas disse...

ctrl C e V... no word... ja ta na minha pasta de textos e conhecimentos especiais.. muito boa essa fonte de conehecimento..
ta tudo escondidinho dentro do nosso própio ser, basta dispertar aos poucos, e absorver tudo de bom que podemos aprender com nosso própio eu... edson abraços....maravilhoso texto.. da proxima posta alguma coisinha sobre comédia pois eu AdorooooUUu comédia, e como comédia é bom também... rsrsrsrsrsrs.. beijos