TEATRO DE PESQUISA, TEATRO DE VERDADE
MARULHO: O CAMINHO DO RIO
Teatro Grupo Redimunho
Rua Álvaro de Carvalho, 75
Centro de São Paulo - Próx ao metrô Anhangabaú
Sábados às 21h
Domingos às 19h
Duração: (aproximadamente) 150 min
(até maio/2011)
www.redimunho.wordexpress.com
Talvez isso pareça ser óbvio de se falar, no entanto não é. Infelizmente o teatro, muitas vezes, tem sido feito por alguns grupos - claro que não por todos - como se fosse um bolo de chocolate, muito bem feito, bem recheado, bem coberto, porém com uma receita batida, conhecida, sem experimentações, sem novidades, sem riscos.
O Grupo Redimunho, caminha por caminhos diversos e "de versos", investiga o sertão, entra num barco em pleno rio "De janeiro" - é o nome de um rio - e vai em direção ao Rio São Francisco em busca do mar sem fim. Enfrenta ventos, tempestades, esquinas escuras, visagens e orações.
Após um longo período de pesquisas que incluiu viagens ao sertão de Minas Gerais mistura assuntos, ideias, cores, sons e tons e com esses ingredientes faz seu espetáculo.
Com toda a coragem de quem acredita no teatro, um teatro de resistência, de batalha, de veia com sangue quente latino, corrente... cheio de paixão, fúria e fé!
Inspirado em Jorge Amado, Gabriel Garcia Marquez e principalmente no sertão de Guimarães Rosa o espetáculo foi escrito e dirigido pelo também ótimo ator Rudifran Pompeu.
O espetáculo investiga o interno do homem, seus medos, seus credos, suas descrenças. E também coloca uma lupa sobre o ator e o questiona sem auto-piedade, com uma sinceridade crua, num desabafo necessário e inquietante que beira o incômodo. Fere mas sara!
O figurino é belo e adequado, as músicas muito boas.
Os atores estão bem dirigidos e alguns são excelentes. A maioria do elenco é composta por atores jovens e recém-formados em diversas escolas, porém todos com experiências muito interessantes em outros espetáculos.
E entre eles está Anísio Clementino, ator veterano que fez parte do CPT, por três anos, sob a direção de Antunes Filho.
É muito bom ver atores inteiros, entregues, transpirando, exaustos, vivos, pulsantes, acreditando na sua arte.
Me impressionou o excelente trabalho do ator (Carlos Mendes) que interpreta a travesti Lili (faz também outras ótimas personagens).
A encenação, cenários, objetos de cenas, adereços e iluminação e sobre tudo o aproveitamento do espaço cênico é excelente!
As cenas em que os atores (e atrizes) aparecem nus são muito boas, sem vulgaridades ou apelações. Pelo contrário são cenas belíssimas, dirigidas com muita sensibilidade.
Gostei de sair do teatro pensando sobre o teatro de chão, bem feito com simplicidade, sem as faraônicas encenações dos "musicaisamericanosdamoda".
É um jeito brasileiro de fazer, de pensar, de cantar, de andar, de sofrer, de contar história, de vestir-se, de refletir, de contestar...
Uma reflexão...
Apesar de ser um belíssimo texto, incomodou-me um pouco, confesso, o ritmo de algumas cenas e o que eu chamo de "literatura demais".
Em alguns momentos, falta um pouco de síntese e certas cenas caem de rendimento talvez por serem explicativas ou longas demais e a meu ver poderiam ser melhores resolvidas.
Tenho certeza que o diretor e o grupo têm plenas condições para melhorá-las.
Para mim algo em torno de vinte e cinco minutos a menos poderia deixar o espetáculo bem melhor.
No entanto, sei que isso é uma questão de escolha, um risco a se correr em espetáculos autorais, colaborativos, ricos em detalhes e ideias como esse.
VIVER É NEGÓCIO MUITO PERIGOSO - GUIMARÃES ROSA
ADOREI TER VISTO UM ESPETÁCULO QUE ME FEZ SAIR PENSANDO NA EXISTÊNCIA, NO TEATRO, NO ATOR, NO BRASIL...
Eu vi, gostei, quero ver de novo e recomendo!
VEJA ABAIXO MUITO MAIS SOBRE ESSE TRABALHO:
“Ogunté, marabô, kayala e sobá…Oloxum, Inaê, Janaína e Iemanjá…”
Direcionar nosso olhar para o marulho das ondas…em direção ao mar.
MARULHO: [Cruz. De mar com barulho] S.m 1. Movimento das águas do mar, de caráter permanente e, algumas vezes, quase imperceptível. 2.Marejada. 3.P.ext. Revolvimento ou agitação das ondas do mar: “Vago e cristalino marulho das ondas” (Virgilio Várzea, O Brigue Flibusteiro, p.138). 4. Fig. Barulho, tumulto, confusão.[Sing. ger.: marulhada.]
Partindo da idéia que a origem da palavra que dá título a essa pesquisa está intrínseca ao trabalho artístico (movimento de caráter permanente…tumulto, confusão…), nos faz crer que a idéia de seguir ate o mar nasce de uma necessidade de abordar diretamente o homem que lida com aquilo que é miticamente maior que ele, e que resgata aquele imaginário onde os homens possuíam a bravura heróica de confrontar os desafios grandiosos da existência.
O nosso caminho por esse rio da vida, significa antes de tudo a continuidade das culturas e a preservação das estórias, estórias que estão diretamente ligadas ao nosso saber e a nossa experiência humana.
Juntamos a isso o fato de nosso trabalho e cotidiano artístico dialogarem com o patrimônio material e imaterial brasileiro e, conseqüentemente, com a preservação de suas origens, mantendo viva a memória de nosso povo.
VEJA CENAS E BASTIDORES DA PEÇA:
Um comentário:
Edson...obrigada pela presença, pelas palavras...só uma correção, o ator que interpreta a Lili chama-se Carlos Mendes...
bjss
se der apareça novamente...
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